A motivação dos crimes passionais geralmente é o adultério .e os assassinatos são cometidos pelos maridos ou amantes.Entretanto em Patrocínio no início do século passado numa trágica ocorrência de semelhantes circunstâncias essa situação se inverteu .Nas imediações do início da rua Cesário Alvim (a rua nesse tempo não estava bem delineada ) numa grande casa construída sob uma estrutura de pedra tapiocanga moravam o casal Hermínio Castanheira da Cunha, e sua dedicada esposa Heliodora Fernandes da Cunha .Essa casa após o acontecido foi demolida e algumas décadas depois passou a pertencer o terreno concedido pelo município para os padres dos Sagrados Corações construírem o Colégio.
Hermínio trabalhava como ferreiro , e Heliodora era uma dona de casa que dedicava cuidar de seus dois filhos e das tarefas domésticas .Entretanto essa pacata rotina foi interrompida bruscamente quando Heliodora através de uma fiel amiga foi informada que seu marido estava tendo um romance secreto com uma mulher que se chamava Zilca Andrade da Silva .Essa Zilca era uma mulher muito sensual que havia ficado viúva recentemente e a sua natureza ardente não lhe permitia a solidão de amores .Com a morte de seu marido um influente fazendeiro da região chamado Antônio Borges Vinhal , ela passou a procurar de forma frenética parceiros para amenizar sua fogosa natureza .E foi nessas condições que ficou conhecendo o Hermínio.
Naquele tempo os encontros secretos aconteciam nas casas das alcoviteiras , ou seja mulheres que colocavam suas casas à disposição para os amantes proibidos desafogarem seus delírios eróticos. A alcoviteira desse caso era conhecida como Tia Alzira.e morava num casebre nas imediações onde é hoje o Asilo São Vicente.
Heliodora quando tomou conhecimento do comportamento do marido foi tomada de um imensurável ódio, mas se conteve. Após descobrir onde era a residência da Alzira ficou pacientemente esperando uma oportunidade para flagrar os ardentes amantes. Numa tarde do verão de 1908 seu marido saiu com a desculpa de descer ao comércio para pegar uma encomenda e ela o seguiu. Então viu com seus próprios olhos que ele entrara na residência de Tia Alzira. Assim que ele adentrou esperou alguns minutos e bateu energicamente na porta, sendo atendida por Alzira que ficou petrificada ao ver a figura de Heliodora, que imediatamente deu-lhe um violento empurrão e se dirigiu ao quarto dos amantes. Assim que presenciou o marido com Zilca, retirou de sua blusa um punhal e cravou o mesmo no peito de Hermínio que teve morte instantânea. As duas mulheres saíram correndo e gritando pelas ruelas pedindo socorro aos vizinhos, enquanto Heliodora, impassível voltou para sua casa, e entregou-se sem nenhuma resistência a uma autoridade policial da época .
Contaram-me que ela foi levada depois de detida para a cidade de Estrela do Sul e posteriormente para Araxá. Seus filhos foram criados pela sogra até a idade adulta. Hermínio foi enterrado no cemitério antigo que ficava onde é hoje o Asilo, sob forte comoção dos amigos.
Heliodora nunca mais voltou a cidade e ninguém soube mais notícias dela. Essa é uma versão antiga da trágica verdade de que duas coisas nesse mundo são responsáveis pela desgraça dos seres humanos. Quando o motivo não é por sexo, é por dinheiro!
*SOBRE O AUTOR
O autor de memória afiada que garimpou no fundo da mente este relato ocorrido em Patrocínio há mais de 100 anos, é o Profº Antônio de Pádua. Antes de mais nada, há que se reconhecer que eis aqui um homem que muito fez pela educação, arte e cultura em Patrocínio e Uberaba. Atualmente reside discretamente em Uberlândia, cuidando da saúde, curtindo a sua mítica trajetória de vida e exercitando a verve literária. Senão vejamos: EM PATROCÍNIO , Profº Antônio, lecionou piano e acordeon, e teve a primeira escola de música da cidade, que funcionava numa sala da casa de Dona Alexandrina Silveira. Organizou a primeira exposição de pintura dos por ocasião da festa da cidade, com os salões cedidos pelo empresário João Elias Abrahão , e posteriormente onde funcionou o BMG hoje, Hotel Rodes ,na época do prefeito Waldemar Lemos. Foi Professor de Filosofia da Educação no Colégio Normal Nossa Senhora do Patrocínio e exerceu cargo administrativo na Escola Estadual Nely Amaral. Quanto aos corais das igreja, começou a tocar harmônio na igreja de São Francisco, na época do Padre Caprásio. Depois foi para o Coral da Matriz e simultaneamente fundaram o Coral da Missa Vespertina na igreja de Santa Luzia. Esse Coral da Missa Vespertina, foi muito elogiado porque nele cantava Zé Carlos Lassi, na época, criança e com uma bela voz, assim como a voz de Soprano na Matriz com Lia Novais . EM UBERABA, exerceu por mais de vinte anos o cargo de Professor de Filosofia e Sociologia e se aposentou nessas disciplinas juntamente com o cargo de orientador educacional , na rede estadual de ensino . Foi Supervisor Pedagógico na rede Municipal de Ensino . Trabalhou como coordenador de eventos religiosos no Museu de Arte Sacra de Uberaba . Trabalhou na Fundação Cultural de Uberaba. Foi pianista do Solar 17, uma casa noturna de alto luxo em Uberaba por mais de vinte e cinco anos . Foi um tempo de muitas realizações naquela cidade .
Essa história ocorrida há mais de 100 anos, na Patrocínio de antanhos ele ouviu de seu tio chamado Gastão, cuja casa se localizava no final da Rua Cesário Alvim, era freqüentada, por pessoas da estripe de Juquinha Barbosa , (pai da Olga Barbosa que foi Diretora do Colégio Dom Lustosa ), Nego Amaral, historiador Joaquim Carlos dos Santos, para os amigos, Quinquim dos Santos, e inúmeras vezes também, ele recebia a visita do Prof. Franklin Botelho . Profº Antônio, era, na época, adolescente e ficava ouvindo atentamente as conversas dos adultos, sobre os mais variados assuntos . Daí a razão de saber tanta coisa antiga.
Um crime deste, hoje, infelizmente, com a banalização da vida, é comum, mas há 108 anos, foi um algo impactante e estarrecedor...(Foto Profº Antônio, ao piano nos áureos tempo do Solar 17 em Uberaba)