(Foto ACIP) Sr Gentil Nascimento, deveria passar pela história de Patrocínio como um dos grandes benfeitores. Um dos fundadores/ proprietários do Parque Hotel Serra Negra e o manteve funcionando em sua fase de esplendor. Lembrando que em sua gestão o local foi o point de políticos da época como o ex-ministro da Fazenda José Maria Alkmin e os ex-presidentes Juscelino Kubitscheck e Tancredo Neves, além de governadores, deputados e artistas no ápice da fama. Sr Gentil Nascimento, foi presença marcante na comunidade. Assumindo a dianteira de entidades como Cooperativa e Associação Comercial e Industrial. Nesta última na galeria de ex-presidentes ele é lembrado, com esta foto e as seguintes palavras: “O senhor Gentil Nascimento, homem apaixonado por Patrocínio, era muito otimista, expansivo e que lutava muito pelas causas que abraçava. Assumindo o cargo de presidente da associação, veio trazer novas forças para a entidade, rejuvenescendo o movimento... Além disso, com uma visão de futuro incomum, conseguiu aumentar o quadro de sócios.
Na época de seu mandato, foi lançado pelo governo federal o projeto POLOCENTRO... A orientação e apoio aos novos cafeicultores, oferecidos pela ACIAPP, foram imprescindíveis para a arrancada econômica do município, trazida pelo “ouro verde”... Uma ação que foi de fundamental importância na época foi uma visita, organizada pela associação, dos ministros do governo Geisel à cidade, para o reconhecimento regional e nacional de Patrocínio como o berço de uma nova fase da agricultura Brasileira...”
Apesar estes e outros feitos, um texto disponibilizado nas Redes Sociais, por sua nora Suzana Farah e chegado ao nosso conhecimento por Mônica Nunes, retrata uma visita bem tocante do Sr Gentil á cidade que tanto valorizou e amou. Tendo se mudado para Beagá, para tratamento de saúde, regressa um tempo depois e assiste in loco que seu nome foi sendo varrido da memória da cidade...”Só os colibris, se lembravam daquele homem bom”. O texto, com certeza publicado na Gazeta de Patrocínio, é assinado por Marcos Ayala, supostamente um pseudônimo, prática muito usada na imprensa da época.
Suzana Farah, guardou com carinho esta crônica pungente e poética e assim escreveu na rede:“Uma homenagem para um filho de Patrocínio que lá viveu e morreu! Seu trabalho em prol da cidade não poderia ter sido esquecido, e no entanto, quase não se fala mais nele! À memória de meu querido sogro, GENTIL NASCIMENTO":
“A GRATIDÃO DOS COLIBRIS...
Ele caminhava vagarosa e pensativamente pelas ruas da cidade.
Parava nas esquinas, observava as pessoas, as casas e as coisas.
Um menino bicicleteava sobre o passeio, ziguezagueando para não atropelar os transeuntes.
Aquele homem de cabelos brancos como os sonhos da Irmã Dulce e olhar triste como os soluços de Madalena, guardava entre os dedos marcados pela nicotina, um cigarro de palha apagado.
Sem brilho e gotejados por uma lágrima furtiva, seus olhos contemplavam as marcas do progresso que "mutilara" a cidade de sua juventude.
Parou frente a Cooperativa Agropecuária e fez perguntas. Disseram-lhe que seu nome não constava mais dos arquivos da entidade e que seus esforços, quando presidirá a instituição haviam se perdido na voragem do tempo...
Mal se lembravam dele!
O lenço enxugou-lhe uma lágrima que lhe descera pelo rosto e ...continuou caminhando.
Esquecido, nem se deu conta de que a sede da Companhia Telefônica de Patrocínio já não funcionava mais ali e nem o Frederico Lopes estava lá.
Tudo mudado!
Adiante, topou com o Dr Figueiredo. Chamou-o carinhosamente de cumpadre.
Aquele encontro era como o selo de uma geração de homens abnegados, prestantes e benfeitores.
Agora, na "Praça da Matriz" - que nos perdoe Monsenhor Thiago - as marcas da saudade.A D. Zulmira, Otávio de Brito, Orlando Barbosa, Dr. Michel, Enéias, o " Noratinho Borges" e o velho amigo "Zé Queiroz", todos já haviam partido...
Lá estava o velho casarão da Prefeitura.
Acende o cigarro, tira os óculos e passa o lenço sobre os olhos.
Ali, abaixo, a Santa Casa, toda reformada, modernizada, prestando serviços.Como na Cooperativa, fez perguntas. Ninguém se lembrava dele como benfeitor daquele hospital.
Não se aborreceu diante do ostracismo a que o haviam relegado.
Tomou o rumo da Avenida Alckmim.
Queria rever a Zaca, a Maria da Chácara, os lugares antigos.
Depois foi à Avenida Rui Barbosa. Era preciso tomar o café da Dona Sofia. No jardim da casa, só as rosas, exalando perfume, deram notícias dela...
Depois...do alto do viaduto, contemplou a cidade de corpo inteiro, banhada pelo sol que escondia no horizonte e retornou ao Hotel Serra Negra.
À noite, da sacada, lançou os olhos sobre a mata escura e foi se recolher sob o véu do silêncio...
Dormiu o sono dos puros e não acordou mais para este mundo!
Levaram-no para a necrópole da cidade grande.
Não reclamou. Apenas uma lágrima marcou seu adeus à terra natal e às coisas que tanto amou...
Hoje, poucos ainda se lembram dele.
Ali, na varanda do hotel, os colibris, como o menino da bicicleta, dão voleios em torno da flor sem vida e trazem da mata os sussurros do triste adeus e da eterna saudade.
Só os colibris não mudaram e nem se esqueceram daquele homem bom...
MARCOS AYALA"