7 de Janeiro de 2017 às 08:44

Massacres no Norte revelam risco de violência tomar prisões e ruas do País

Em menos de uma semana, mais de 90 presos morreram em penitenciárias do Norte do País

As mais de 90 mortes que aconteceram em Manaus, no último domingo (1), e em Roraima, nesta sexta-feira (6), podem indicar um movimento de motins em presídios do Brasil. A análise foi feita por especialistas ouvidos pelo R7 que alertam também para a possibilidade de a briga entre facções chegar às ruas.

O pesquisador do grupo de estudos sobre violência e administração de conflitos da Universidade Federal de São Calos, Felipe Athayde Lins de Melo, diz que está evidenciado uma disputa de mercado na região Norte e Nordeste do Brasil pelas facções e que um acordo foi rompido.

— A tendência é que isso se espalhe para a região Norte e Nordeste. O Estado não tem condições de controlar isso. Anunciar cinco novos presídios é uma resposta para chamar a atenção porque não vai resolver nada.

Para Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a guerra nesses presídios ocorre por resistência encontrada pelo PCC para se expandir em algumas regiões do País.

— Você tem já há alguns meses uma rixa que se acirrou e virou uma guerra declarada entre o PCC e o CV [Comando Vermelho]. O PCC se expandiu bastante e encontrou resistência em alguns lugares de organizações locais e esses grupos tem tentado ou conseguido se aliar ao CV.

Segundo o analista, esse atrito iniciou a guerra entre as organizações. 

— Há algum tempo estavam tentando manter a paz. Mas a guerra foi acontecendo. E o primeiro passo foi a morte dos 18 em Roraima, em outubro. Mas isso vai continuar. Vai se espalhar.

De acordo com o advogado criminal e vice-presidente do ITTC (Instituto Terra, Trabalho e Cidadania), Guilherme Madi Rezende, o acontecido nos dois presídios é fruto do descaso com o sistema carcerário do Brasil.

— Tenho medo que isso seja o início de um movimento, espero que não seja. Mas a forma com que isso está sendo tratado aumenta essa possibilidade.

O deputado Alberto Fraga (DEM), presidente da CPI do sistema carcerário brasileiro, também faz uma previsão pessimista sobre o quadro.

— A única linguagem que eles [facções] entendem é a da violência. Se a gente não iniciar uma punição severa para esses grupos, nós teremos mortes e mais mortes todas as semanas.

Expansão e reflexo

Para os especialistas, a briga nas penitenciárias não deve chegar nos estados do Sul e Sudeste. Para Melo, as condições dos presídios no Norte e Nordeste “são tão ruins como a de São Paulo”, mas a capital paulista e o Rio de Janeiro já têm suas facções bem consolidadas e que essa disputa por mercado dentro dos presídios não deve acontecer.

Rezende diz que esse estopim é fruto da política de encarceramento e da guerra às drogas que vem sendo reafirmada pelo governo.

— A tendência é que a gente tenha cada vez mais outros focos [de rebelião]. Esse tipo de rebelião não é casual.

Mingardi alerta para o reflexo que essa guerra nas cadeias pode ter nas ruas. 

— O grande problema desse caso é que as pessoas falam que são vagabundos e que podem se matar. Isso é uma bobagem e o mais importante é que quando as organizações brigam, essa briga chega nas ruas e nas ruas estamos nós. É a população, nós que estaremos no fogo cruzado.

O analista também acredita que esse tipo e motim ocorrido no Norte não deve chegar a outras regiões do País.

— Sul e Sudeste vai ser mais a briga pelos pontos de droga, briga nas ruas. Porque no fundo é por causa de ponto de drogas e rota de tráfico. A parte do poder está sendo disputada na cadeia e fora da cadeia estão disputando os pontos de drogas.

Medidas

Segundo Melo, para lidar com motins como esses, é importante destacar a necessidade de um movimento coordenado entre governo federal e os Estados para criar uma resposta articulada para o problema que “não pode ser de uma forma violenta”.

— Tem que diminuir nossos índices de encarceramento, fazer com que a legislação seja cumprida e melhorar a assistência jurídica às pessoas que estão presas. O anúncio da construção de novos presídios é uma grande falácia.

Para Mingardi, o sistema penitenciário brasileiro é “bagunçado” e para reverter esse cenário é necessário tempo e investimento.

— No curto prazo tem que separar as organizações para controlar e evitar mortandade.

Além disso, o vice-presidente do ITTC diz que o fato de o presidente Michel Temer ter dito que a rebelião em Manaus foi “um acidente” é “sintomático”.

— Ele chama de acidente porque é a forma como ele enxerga essa questão. Ele não vê como uma relação causal com a qual ele contribuiu, analisa como um acidente.

*Colaborou: Peu Araújo, do R7


Comentários

Termos de uso:

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Patrocínio Online. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O Patrocínio Online poderá remover, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos ou que estejam fora do tema da matéria comentada. É livre a manifestação do pensamento, mas deve ter responsabilidade!