O LATS UPDATE SIMPOSIUM aconteceu em Salvador no fim do mês de março e levantou algumas discussões que interessam aos pacientes com problemas de tireoide.
Esse congresso de abril gerou discussões polêmicas em doenças da tireoide, desde hipotiroidismo, hipertiroidismo, gestação e câncer de tireoide. Abriu espaço para novas pesquisas e novas condutas clínicas.
Dentre os temas abordados foi discutido a dificuldade de controle do TSH mesmo com pacientes usando altas doses de hormônio tiroideanos. Por que alguns pacientes tem maiores dificuldades de controle da doença?
A causa mais comum é a baixa adesão ao tratamento. Nem sempre os pacientes tomam os medicamentos para o hipotiroidismo diariamente no mesmo horário e com 30 minutos de jejum. Isso atrapalha a absorção e pode levar ao descontrole dos níveis hormonais.
Alguns palestrantes defenderam a tese de que é possível obter um controle adequado sem fazer o jejum, mas tendo regularidade no horário da ingestão do medicamento e mantendo um padrão de refeição – comer sempre mais ou menos a mesma coisa no café da manhã. Vale a pena tentar, mas com acompanhamento médico, pois a dosagem do remédio vai mudar com esse novo hábito e alguns pacientes podem não conseguir o controle adequado.
Em outros casos onde é afastada a má adesão ao tratamento é impreterível investigar doenças que causam má absorção gástrica e intestinal como doença celíaca, gastrite atrófica e infecções pelo H Pylori (bactéria do estômago). A cirurgia bariátrica também pode causar dificuldade na absorção do medicamento e o controle hormonal pode ficar prejudicado.
Mais comum do que essas doenças é o uso de medicamentos como inibidores da bomba de prótons, o famoso Omeprazol e outros como antidepressivos e antibióticos. O uso de medicamentos pode atrapalhar a absorção da levotiroxina. É recomendado, quando possível, que a ingestão de outros medicamentos seja feita após 2 a 4horas da ingestão de Levotiroxina.
Também foi discutida a possibilidade da diminuição da dose de Levotiroxina no paciente idoso com a finalidade de manter um TSH um pouco elevado. Alguns trabalhos mostram que o aumento do TSH ao longo da vida, na idade adulta pode ser um fator protetor a outras doenças, mas isso ainda requer mais discussões. A certeza é que não se deve deixar TSH muito baixo pelo risco de outras doenças como osteoporose e doenças cardiovasculares.
Outra palestra interessante discursou sobre o uso concomitante de T3 com a Levotiroxina. As pesquisas concluíram que apenas os pacientes com defeito genético da deiodinase tipo 2 devem ter administrado o T3 junto com a Levotiroxina. Isso porque não há ainda no mercado formas farmacêuticas seguras e fisiológicas para serem comercializadas. E o consenso de tireoide recomenda que não sejam administradas formas manipuladas. O uso de T3 ainda deve ser prescrito apenas sob protocolo de pesquisas e para pacientes específicos.
Um ponto importante foi a discussão sobre o screening de hipotiroidismo na gestação. Como essa doença pode causar abortamento e outros problemas para mãe e para o feto, foi defendido um screening em todas as gestantes. Isso baseado no fato de que o exame é barato e fácil de ser realizado.
Sobre gravidez ainda, foi discutido por um palestrante argentino a possibilidade de deixar o TSH antes da gestação em valores abaixo de 1,2 para evitar aumento muito grandes da dose durante a gestação. Ou seja, pacientes que tem hipotiroidismo precisam ajustar a dose do seu medicamento antes de engravidar.
Também comentaram sobre a importância do Ultrassom no diagnóstico de câncer de tireoide. Os radiologistas precisam estar atentos na descrição dos nódulos que direcionam a conduta médica na descoberta de uma neoplasia.
Quando o câncer de tireoide gera metástases usamos normalmente a cintilografia para localizar essas metástases. Os novos trabalhos tentam preconizar o uso do Pet Scan para melhor localização das mesmas. Algumas metástases só podem ser vistas no Pet Scan, esse é um exame mais moderno e caro.
Mostraram um caso comovente de uma paciente que teve câncer maligno de tireoide como muitas metástases e que iria para a radioterapia depois de muitas outras tentativas com aplicação de radioiodoterapia. Antes de ser submetida a radioterapia a paciente engravidou e precisou parar o tratamento. Ela conseguiu ganhar o bebê de forma saudável e após o parto a paciente está sem sintomas e apenas acompanhando periodicamente. As metástases não sumiram, mas também não evoluíram.
Mostraram medicamentos novos que estão em fase III de pesquisa para o combate das metástases em raros casos de câncer maligno de tireoide.
Para mim o mais interessante foi a palestra que mostrou que Metformina, uma droga usada para diabetes, pode diminuir o tamanho dos nódulos de tiroide. Os pesquisadores descobriram que a obesidade leva a produção aumentada de leptina. E esse hormônio leva ao gatilho de células cancerígenas da tireoide. Ou seja, obesidade gera câncer de tireoide. O uso da metformina melhora a ação da insulina e pode diminuir os nódulos da tireoide, assim como a perda de peso e o combate à obesidade pode trazer o mesmo resultado. O gene envolvido na tumorigenese é o Stat3.
O congresso foi enriquecedor no quesito científico e cultural. É preciso estarmos alertas para as novidades no diagnóstico e tratamento da tireoide.
PS: As imagens são meramente ilustrativas e retiradas da internet.